Amazonas registra aumento de 9,5% nos casos de feminicídio

Em 2023, ocorreram 23 assassinatos de mulheres por violência doméstica; em 2022 foram 21mortes

O Amazonas registrou aumento de 9,5% no número de feminicídios. Em 2023 foram 23 casos, dois a mais do que os 21 ocorridos no ano anterior. Os dados fazem parte do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta quinta-feira. Em todo o Brasil, foram 1.467 feminicídios no ano passado, contra 1.455 casos de 2022.

Além dos números de mortes de mulheres por violência doméstica, o estudo produzido a partir de dados oficiais, apontou 50% de aumento nas tentativas de feminicídios e 8,5% de crescimento  em lesão corporal grave contra mulheres. Subiu de 44 para 66, totalizando 22 registros a mais. Já a violência doméstica grave saiu de 3.284 para 3.564, diferença de 280 casos. 

Esse aumento dos números é uma tendência que se confirma em  2024. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), no primeiro semestre deste ano, já foram registrados 23 casos, igualando o total de registros de todo o ano de 2023.

A delegada titular da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM), Patrícia Leão, avalia que um dos fatores que contribuem para o aumento de feminicídio é a resistência das vítimas em denunciar o infrator, por ser o esposo ou um familiar. 

“Geralmente as vítimas de feminicídio não procuram ajuda. Normalmente, quando você vai analisar, não tem nem o registro de Boletim de Ocorrência (BO), porque elas acreditam que o companheiro não vai passar das ameaças”, disse Leão.

Apesar do aumento dos números de feminicídio e violência doméstica em 2023, o Amazonas registrou redução de 48% nas denúncias pelo 190, totalizando 8.244 ligações a menos do que em 2022. 

A delegada Patrícia Leão relatou que os números de denúncias nas delegacias cresceram e também de medidas protetivas, porque as equipes de segurança estão orientando as vítimas a procurar a delegacia e que esse trabalho é intensificado desde a criação da Lei Maria da Penha. “A gente tem feito um trabalho educativo com as mulheres, para que elas consigam identificar que são vítimas de violência doméstica. Por conta desse trabalho pedagógico, hoje as vítimas têm procurado mais, pedido mais medidas protetivas e isso tem levado a um aumento, porque a violência contra a mulher, ela sempre existiu e os números sempre foram assustadores”, ressaltou a titular da DECCM.

Dependência

A delegada destacou que uma das maiores dificuldades que a polícia encontra é a dependência da vítima em relação ao agressor por motivos financeiros, familiares e  por ter filhos, o que dificulta as denúncias e pedidos de medidas protetivas.“As vítimas têm muita dificuldade de romper o ciclo de violência, normalmente quando elas nos procuram, elas não querem acabar o relacionamento, elas não querem acabar o casamento, elas querem cessar a violência. Então, a nossa maior dificuldade se encontra aí, porque a vítima não quer acabar o casamento dela”, afirmou Patrícia Leão.

Violência

A coordenadora do Fórum Permanente das mulheres de Manaus, Francy Júnior, ressaltou que a violência contra a mulher chama a atenção pelos números de mortes. “A violência contra mulheres frequentemente inclui uma gama mais ampla de abusos, como agressões físicas e psicológicas, que são igualmente preocupantes”, disse. 

O anuário apresenta uma queda de 5,9% nos registros de violência psicológica contra a mulher, mas Francy Júnior alertou que muitos dados são subnotificados porque as vítimas têm medo de denunciar. “Muitas vítimas não denunciam a violência devido ao medo de represálias, estigma ou falta de confiança nas autoridades e muitas vezes o medo da reação dos agentes na delegacia”, ressaltou a coordenadora.

A ativista  destacou que o Amazonas precisa melhorar a coleta de dados, aumentar a conscientização e fortalecimento das políticas públicas de forma eficaz, retirando as leis do papel e botando em ações práticas como atendimentos psicológicos facilitados, programas de independência financeira e saúde.“Além disso, é crucial promover a educação e o apoio às vítimas para reduzir a violência e garantir a justiça para todas as mulheres afetadas e a sociedade, pois a violência contra mulheres afeta toda sociedade”

Entre os fatores apontados como causadores do aumento de feminicídios Francy Júnior incluiu a existência de  políticas públicas inadequadas, falta de apoio adequado às vítimas, sistema de justiça lento, ausência de programas educacionais e campanhas de conscientização que podem contribuir para a perpetuação de normas culturais que toleram ou minimizam a violência contra mulheres.

Francy Júnior ponderou que a realidade social das vítimas devem ser consideradas como fatores que dificultam as denúncias. “Também tem fatores socioeconômicos, vivemos em um mundo desigual. As desigualdades sociais e econômicas podem exacerbar a violência, tornando mais difícil para as vítimas saírem de situações abusivas e buscando ajuda”, afirmou a coordenadora do Fórum. 

Relação abusiva 

Um exemplo de como as diferenças econômicas afetam às vítimas é o caso de uma jovem de 25 anos (identidade não revelada para preservar sua segurança), que relatou ao A CRÍTICA ter passado 7 anos em um relacionamento abusivo e violento por conta da dependência financeira. 

“Eu era muito jovem, não trabalhava e nem estudava, acreditei que eu não poderia me separar dele até ter estabilidade para isso”, relatou. A vítima começou a se envolver com o agressor quando ainda era menor de idade, 16 anos, em seguida engravidou e teve um aborto causado pelo ex-companheiro, que colocava medicações abortivas em sua alimentação.

“No meu sexto mês de gestação, ele me deu remédio abortivo sem eu saber. Ele que manipulava todos os meus medicamentos na época”, contou. Ela informou que durante o relacionamento não podia sair sozinha e ter amigos para entender o que estava passando.“Eu não podia ter amigos, mas dependia financeiramente dele para tudo e eu me via encurralada, sem ter forças para lutar contra isso. Além disso, eu não entendia como as leis funcionam, me sentia muito culpada por tudo o que acontecia e tinha vergonha, principalmente porque outras pessoas me culpavam por viver daquela forma e eu achava que a culpa era unicamente minha e de mais ninguém”

Por A Crítica

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