Das 69 farmácias populares, maioria (50) está na capital, Manaus. Veja a lista e requisitos
O Amazonas tem 69 farmácias populares credenciadas para distribuição gratuita de absorventes pelo Programa de Proteção e Promoção da Saúde e Dignidade Menstrual, do governo federal. A maioria (50) da lojas está localizada na cidade de Manaus, que concentra metade da população amazonense, enquanto o interior, formado por 61 municípios, tem 19 farmácias em 15 cidades. Acesse aqui a lista completa.
O programa criado pelo governo federal pretende atender 24 milhões de pessoas com idade entre 10 e 49 anos, distribuídas em 4,6 mil municípios brasileiros. No estado amazonense, a população atingida pela nova política de saúde é estimada em 517 mil.
Apesar de ainda ter poucos espaços para distribuição no interior do Amazonas, onde está concentrada a população mais pobre do estado, o novo programa federal é avaliado como positivo por ativistas do movimento feminista.
“O programa promove a saúde feminina, prevenindo infecções, mas também contribui para a equidade de gênero, permitindo que as mulheres participem plenamente na sociedade, incluindo na educação e no trabalho, sem serem impedidas por barreiras relacionadas à menstruação”, afirmou à reportagem a representante do Movimento das Mulheres Negras da Floresta (Dandara), Francy Júnior.
Segundo ela, além da questão sanitária, a ação de política pública também ajuda no combate à discriminação associada à menstruação.“Promove a conscientização e a normalização do ciclo menstrual. Espero que não fique apenas como programa de governo e sim uma política pública que possa atender à população que necessita da política, do programa”, defende.
A distribuição gratuita dos absorventes é direcionada a pessoas pertencentes a grupos que vivem abaixo da linha da pobreza e que estão matriculadas em escolas públicas, em situação de rua ou em vulnerabilidade extrema. Além disso, a população que se encontra em unidades do sistema prisional também será incluída no programa.
A ativista Francy Júnior, que também é professora da rede pública de ensino, enfatiza que uma análise mais aprofundada com o número de mulheres que necessitem do programa deve ser feita.“Não podemos ser superficiais, se faz urgente atender a todas. Algumas pessoas acham que esse programa é inútil, mas enquanto professora do chão da escola pública, sei de muitas alunas que no período da menstruação são impedidas de frequentar a escola, pois, não há recursos financeiros para comprar os absorventes”, afirmou.
Entre os sete estados da região Norte, o programa prevê a distribuição de absorventes gratuitos a 2,43 milhões de pessoas em vulnerabilidade por meio das 925 farmácias credenciadas em 229 municípios. Em primeiro lugar no ranking, o Pará tem o maior número de beneficiárias: 1,2 milhão.
Pobreza Menstrual
Segundo relatório publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre pobreza menstrual no Brasil, em 2021, cerca de 20% das alunas do 9º ano do ensino fundamental estavam parcialmente desassistidas por pelo menos um item de higiente, dentre eles, absorventes íntimos.
Com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017, o estudo mostrou ainda que a média de gastos com absorventes por unidade de consumo é de R$12,97. Quando é levada em consideração a quantidade de meninas e mulheres em idade fértil na família, a média do gasto com absorvente por mulher se reduz a menos que a metade, com média de R$5,92.
No Brasil, uma a cada quatro jovens não têm acesso a protetores menstruais durante a menstruação. Na Região Norte, cerca de 50% das escolas não apresentam condições mínimas para o cuidado menstrual, sendo que quase 90% das mulheres passarão entre 3 e 7 anos da sua vida menstruando.
Consequências
Para a assistente social e professora, Milena Barroso, não ter acesso a produtos e condições de higiene adequados traz diversas consequências para a saúde física e psicológica de pessoas que menstruam.“Uma grande parcela das mulheres de baixa renda precisa escolher entre comprar comida ou garantir itens de higiene pessoal, como os absorventes íntimos. Uma injustiça social que expõe ainda mais a população mais vulnerável às situações de violência”, disse.
Milena destaca que 50,1% da população amazonense é representada por mulheres, entretanto, elas acabam ocupando menos espaços de poder e representação. “As mulheres ganham 13% menos que os homens, estão mais expostas às diversas violências, ao desemprego, à ausência de saneamento básico”, comenta.“É resultado das relações patriarcais, elitistas e conservadoras. É o mesmo que invisibiliza o debate público e social do tema da menstruação e favorece que essa discussão seja historicamente vista como tabu, de forma estigmatizada, como uma questão individual”, defende.
O mesmo relatório da Unicef apontou que mais de 4 milhões de meninas (38,1% do total das estudantes) frequentam escolas com a privação de pelo menos um dos requisitos mínimos de higiene, e quase 200 mil alunas estão totalmente privadas de condições mínimas para cuidar da sua menstruação na sua escola.
Por A Crítica