Estado foi o segundo da Amazônia com menos desmatamento entre janeiro e julho deste ano, segundo dados do Inpe
O desmatamento no Amazonas caiu 62,61% de janeiro a julho deste ano, a segunda maior redução percentual entre os estados da Amazônia Legal e a primeira em áreas totais (queda de 1,7 mil km² para 645,8 km²), se comparado ao mesmo período de 2022. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e chamam a atenção, pois é a primeira vez em quatro anos que o desflorestamento voltou a reduzir no estado.
Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que negava o cenário de desmatamento e queimadas, o Amazonas saiu da quarta para a segunda posição entre as unidades da federação com mais perda de florestas, segundo o Inpe.
De janeiro a julho de 2022, o Amazonas perdeu uma área de 1,7 mil km² para o desmatamento. Já neste ano, a perda de floresta alcançou uma área de 645,8 km², menor do que o registrado no início da série histórica, em 2015 (663 km²), mas ainda o dobro do menor nível de desmatamento já identificado pelo sistema Deter (Inpe), em 2017 (373,79 km²).
Atuação
O superintendente do Ibama no Amazonas, Joel Araújo, atribuiu a queda do desmatamento na região à intensificação das operações de controle e fiscalização por meio de uma nova política ambiental vigente no país.
“Isso tudo é fruto de uma política do governo federal, que tem tratado essa questão com muita seriedade. É um compromisso do presidente Lula e ele tem estendido esse compromisso aos governos estaduais, então o governo do Amazonas tem se mobilizado, dentro das suas limitações, e o Ibama tem trabalhado intensamente contra o desmatamento”, afirma ele.
Para se ter ideia, durante o primeiro semestre de 2022, foram lavrados 262 autos de infração no Amazonas. Já no mesmo período de 2023, o número chegou a 609 autos, um crescimento de 132%. De todos os registros de infração, 70% está relacionado a crimes contra a flora.
Multas
Além disso, enquanto o Ibama aplicou R$ 120 milhões em multas no primeiro semestre do ano passado, no estado amazonense, nos seis primeiros meses deste ano, o valor já chegou a R$ 577 milhões, ou seja, quadruplicou. Os dados são da Superintendência do Ibama no Amazonas.
“Neste ano, nós realizamos 18 etapas da nossa operação de desmatamento, que é o GCDA [Grupo de Combate ao Desmatamento na Amazônia] e quatro operações de combate à cadeia produtiva ilegal da madeira, investigando planos de manejo fraudados e pátios de madeireiras que possuem madeira ilegal, o que tem gerado muitos resultados”, pontua Joel Araújo.
Geral
Em toda a Amazônia Legal, houve queda de 42,47% no desmatamento registrado pelo Inpe entre janeiro e julho deste ano. O percentual é também o menor número registrado nos últimos quatro anos, marcando uma curva de queda após alta constante no governo Bolsonaro.
Apesar do cenário decrescente, até este mês, a Amazônia brasileira já perdeu 3.232 km² de floresta, o equivalente a duas vezes o município de São Paulo (1.521 km²) ou três vezes o Município de Belém (1.059 km²).
O estado amazônico com mais área desmatada até o momento é o Pará (1.251 km²), seguido do Mato Grosso (1.166 km²). O Amazonas, que costumava ficar na terceira posição e chegou ao segundo lugar em 2021, voltou a ficar em terceiro no ranking (737 km²).
Governo estadual
Para A CRÍTICA, o secretário estadual de Meio Ambiente Eduardo Taveira ressaltou que, somente em julho, houve queda de 81,2% nos alertas de desmatamento, no estado.
“É importante ressaltar que, dos sete primeiros meses de 2023, cinco deles o estado fechou com redução. Esse é um resultado bastante expressivo”, avalia.
Atualmente, o governo estadual realiza a segunda fase da Operação Aceiro, com envio de agentes do Corpo de Bombeiros do Amazonas para o Sul do estado, área que concentra os maiores níveis de desmatamento e queimadas.
Na primeira fase da operação, que encerrou no último dia 8, foram atendidas 154 ocorrências nos municípios de Humaitá, Lábrea, Boca do Acre, Manicoré e Apuí.
“A queda do desmatamento é fruto de um trabalho integrado para atuar tanto na repressão contra os crimes ambientais, que estão cada vez mais associados a outros crimes, como tráfico de armas e drogas, e principalmente para incentivar o desenvolvimento econômico e sustentável no interior do Amazonas”, afirmou Taveira.
Cascata
Na avaliação do secretário de Meio Ambiente de Lábrea, (A 852,5 quilômetros de Manaus), Daniel Hiroshi, há um “clima favorável” que impulsiona o combate assertivo a crimes ambientais em todas as esferas do poder público. Segundo o MapBiomas, Lábrea foi o município com mais desmatamento no país em 2022.
“É um efeito cascata. Se eu tenho a União, que é o órgão máximo de proteção ambiental, fazendo atividade no macro, eu tenho como atender e iniciar a minha preocupação nos problemas de impacto local. É aquela história, se o meu vizinho faz, eu não vou ficar atrás”, comentou.
O secretário chama a atenção para a necessidade de haver investimentos não somente no combate aos ilícitos ambientais, mas também na busca por alternativas econômicas sustentáveis.
“A gente não vai poder fazer políticas públicas ambientais se a gente não se preocupar com o cenário socioeconômico de cada município. Quais são as potencialidades de cada um? Em Lábrea eu tenho o extrativismo, a pesca, concessões florestais, por exemplo, e preciso de um zoneamento ecológico-econômico, me preocupar com o homem da floresta”, afirmou.
Por A Critica