Indústria soma sobrecustos de R$ 1,4 bilhão, enquanto o agronegócio enfrenta perdas crescentes
O custo da estiagem histórica de 2024 já supera os R$ 3,2 bilhões somando os custos adicionais para a indústria, o prejuízo sofrido pelo agronegócio e os investimentos realizados pelo governo do Amazonas com recursos destinados ao estado pelo governo federal. No âmbito da indústria, as estimativas se aproximam de R$ 1,4 bilhão.
Segundo os dados compilados pelos professores Augusto Rocha e André Costa, com apoio do Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam), as despesas já contabilizadas incluem R$ 100 milhões para obras emergenciais e R$ 846 milhões em sobrecustos com estoques, chegando a R$ 946 milhões. Há ainda uma estimativa para gastos com a taxa da seca, que chegam a mais ou menos R$ 500 milhões. Somados, superam R$ 1,4 bilhão em 2023, mas a avaliação do professor é de que esse número final não se concretize.
“A taxa da seca é uma estimativa. Pode subir ou descer, só teremos clareza no início do ano. O aumento de estoque custou muito caro. A separação de custos foi por isso, para demonstrar o que já temos certeza. Acredito que será menor, mas não muito menor”, disse Augusto Rocha, coordenador da Comissão de Logística do Cieam.
Ele lembrou que houve um esforço por parte do governo federal com a realização de dragagens, mas que no fim “não serviu para o problema da indústria”. “A grande lição é que é fundamental estudar a Amazônia para serem feitas obras de longo prazo. A dragagem dá a nítida impressão de ser inútil. A solução atual é muito cara. Precisamos de soluções mais eficientes e que não agravem o custo da indústria. O esforço é reconhecido e aplausos para ele, mas precisamos fazer diferente no próximo ano. Foram dois anos de custos altos. É necessário que as instituições de infraestrutura aprendam com o que aconteceu”, avaliou.Logística
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, ressaltou que ainda não é possível medir por completo os impactos econômico e financeiro da seca de 2024, mas que as estimativas iniciais apontam para um “custo logístico adicional” de mais de R$ 500 milhões.“As obras do governo estadual e federal foram fundamentais para a mitigação dos efeitos da estiagem para o segmento. A instalação dos portos provisórios permitiu o transbordo de mais de 25 mil contêineres e garantiu que o cenário não fosse temerário como em 2023. As operações de dragagem também estão garantindo o mínimo de trafegabilidade fluvial e assegurando o fluxo logístico”, relatou.
Antônio Silva destacou que os maiores impactos ocorreram em comunidades ribeirinhas, que precisaram ser atendidas de forma emergencial pelo governo do Amazonas com o envio de mais de 3 mil toneladas de alimentos e mais de 200 mil toneladas de medicamentos, além da antecipação do Auxílio Estadual e remissão e renegociação de dívidas para produtores rurais.“Em avaliação preliminar, o balanço está sendo positivo. As ações governamentais e o planejamento dos setores se mostraram efetivos em reduzir os impactos da seca. Diante de situações tão atípicas e severas como as que estamos vivenciando, não há uma solução definitiva ou isolada. Precisamos continuar adotando esse planejamento integrado e ações conjuntas para consolidar os planos de enfrentamento nos próximos anos”, concluiu.
Agro prejudicado
Dados repassados para A CRÍTICA pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas (Faea), Muni Lourenço, mostram que os produtores rurais acumularam um prejuízo de R$ 620 milhões até o mês de novembro, valor 23,87% maior que em 2023, quando as perdas foram de R$ 472 milhões.
O cenário contrasta com o apresentado pela indústria que, apesar dos custos adicionais, evitou maiores impactos graças ao planejamento no primeiro semestre e projeta fechar o ano com o melhor resultado para a Zona Franca de Manaus (ZFM) desde 2011.
Por A Crítica