O jaraqui é uma espécie fundamental para o equilíbrio do ecossistema amazônico. Ele desempenha um papel crucial na dispersão de sementes de árvores frutíferas, garantindo a reprodução e a diversidade das florestas tropicais
O Amazonas, um dos mais preciosos biomas do planeta, é rico em biodiversidade e abriga uma infinidade de espécies aquáticas. Dentre elas, o jaraqui, um peixe de escamas prateadas e de sabor exótico, tem sido alvo de intensa atividade pesqueira nas últimas décadas. Essa pesca excessiva tem gerado consequências preocupantes para a espécie.
O jaraqui é uma espécie fundamental para o equilíbrio do ecossistema amazônico. Ele desempenha um papel crucial na dispersão de sementes de árvores frutíferas, garantindo a reprodução e a diversidade das florestas tropicais. Além disso, o peixe também é uma importante fonte de alimento para as comunidades ribeirinhas, sendo essencial para a segurança alimentar e a subsistência de muitas famílias.
No entanto, a demanda crescente pelo jaraqui tem levado à sobrepesca em várias regiões do Amazonas. A utilização de técnicas predatórias e pouco sustentáveis, como redes de arrasto de grande porte e pesca durante o período de reprodução, tem causado uma drástica redução nos estoques naturais do peixe. A falta de regulamentação e fiscalização adequadas também contribui para a exploração excessiva.
Como a espécie de peixe mais consumida na região amazônica, o jaraqui é responsável por aproximadamente 93% do total de capturas pesqueiras na Amazônia central. Entretanto, estudos recentes apontam que a sobrepesca, que ocorre quando retiramos da natureza mais indivíduos do que a espécie consegue repor através de reprodução, já causa desequilíbrio em suas populações.
O impacto imediato dessa atividade é a redução do número de exemplares dessa espécie, mas ao longo do tempo, essa diminuição também pode afetar a diversidade genética. Tal diversidade é de extrema importância, pois reflete o potencial adaptativo da espécie frente às mudanças ambientais. Isso inclui a resistência a doenças, capacidade de lidar com poluentes, variações de temperatura e outros desafios que os indivíduos enfrentam ao longo de suas vidas.
Considerando a relevância econômica do jaraqui, responsável por uma significativa parcela do desembarque pesqueiro, seu papel ecológico na ciclagem dos nutrientes, e seu valor cultural enraizado, sendo inclusive reconhecido como patrimônio cultural imaterial de Manaus por lei, a equipe liderada pela pesquisadora e professora Izeni Farias, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, considerou importante avaliar a saúde genética dessa espécie.
Os pesquisadores coletaram amostras de jaraqui em diversas localidades ao longo da bacia amazônica, abrangendo os rios de água preta, branca e clara, nos estados do Amazonas e Pará.
“Nossas análises tinham como objetivo não apenas compreender a diversidade genética da espécie, mas também sua distribuição entre as diferentes localidades e sua história demográfica. Os resultados revelaram que o jaraqui apresenta alta diversidade genética em todas as áreas amostradas, constituindo uma única população em toda a bacia Amazônica. No entanto, ao examinarmos a história demográfica da espécie, notamos que ela está enfrentando um gargalo populacional. Apesar da diversidade genética aparentemente ainda ser elevada, a espécie vem perdendo diversidade rapidamente ao longo do tempo, o que é um claro sinal de sobrepesca”, explica a bióloga Msc. Ingrid Nunes, primeira autora do trabalho publicado em julho na revista PeerJ.
Ao longo das últimas décadas de exploração, para minimizar esse impacto, os pescadores adaptaram suas redes para evitar a captura de exemplares mais jovens. Adicionalmente, estudos sobre a reprodução do jaraqui sugerem que os indivíduos estão alcançando a maturidade sexual de forma prematura. De forma alarmante, análises genéticas indicam uma significativa redução no tamanho da população, corroborando a hipótese de que a sobrepesca esteja afetando a espécie.
Conforme a professora e pesquisadora Izeni Farias, felizmente, o peixe ainda possui uma grande diversidade genética, o que lhe confere uma maior capacidade de adaptação.
“A conservação da espécie depende não apenas dela própria, mas também de medidas específicas para garantir sua sobrevivência, e isso é nossa responsabilidade, se queremos que a pesca desta espécie seja sustentável”, pontuou a pesquisadora.
Nesse sentido, os autores do estudo recomendam que o jaraqui seja incluído na lista de pesca proibida durante o período de defeso no estado do Amazonas, enquanto outras pesquisas são realizadas para desenvolver um plano de manejo e regulamentação adequados para sua pesca sustentável.
Além dos desafios da sobrepesca, o jaraqui também sofre com a degradação do meio ambiente, especialmente devido ao desmatamento, um problema que afeta todas as espécies da região. Portanto, é imprescindível adotar ações efetivas para conservar o habitat natural do jaraqui, garantindo assim a continuidade dessa importante espécie na Amazônia.
Fonte: A Critica