A Petrobras confirmou que o avião ATR-72 que caiu em Vinhedo realizou um voo para Urucu em outubro do ano passado. Sindicato dos Petroleiros afirma que já vinha reclamando dos voos antes mesmo do acidente
Trabalhadores da Petrobras que dependem dos voos da Voepass para a Província Petrolífera de Urucu, em Coari (município a 362 quilômetros de Manaus), expressam preocupação quanto à segurança das operações aéreas. Após a queda do avião operado pela companhia na última sexta-feira (9), em Vinhedo, São Paulo, os voos para Urucu foram suspensos temporariamente, retornando somente nesta terça-feira (13) após uma série de inspeções.
Durante reunião nesta terça-feira (13) com representantes da Petrobras e do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo (Sindipetro) PA/AM/MA/AP, a Petrobras confirmou que o avião ATR-72 que caiu em Vinhedo realizou um voo para Urucu em outubro do ano passado, substituindo um modelo comumente utilizado nessa rota. Conforme estabelecido em contrato, a Petrobras utiliza na região um modelo menor da mesma família, o ATR-42.
Segundo o diretor do Sindipetro PA/AM/MA/AP e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Bruno Terribas, antes mesmo do acidente em Vinhedo, em março do ano passado, o sindicato já havia denunciado problemas de segurança de voos em Urucu. Entre as principais preocupações levantadas estavam as tentativas de decolagens frustradas por recorrentes panes na aeronave.
Após um desses episódios de pane na aeronave, uma trabalhadora contratada se recusou a embarcar novamente e foi demitida, segundo uma denúncia apresentada pelo Sindipetro. Em outra ocasião, o sindicato afirma que houve falta de apuração de uma denúncia de um ex-mecânico da companhia que relatou problemas de segurança na aeronave. O trabalhador também foi demitido, segundo o sindicato.“Desde que essa empresa assumiu o contrato, as reclamações são constantes, principalmente quanto ao cancelamento de voos, retornos de voos de Urucu e as consequências disso para quem precisa fazer outro trajeto até o destino final. Mais recentemente, tivemos problemas com o ar-condicionado durante a onda de calor. Também houve o caso de uma terceirizada que se recusou a voar em um desses voos por temor e acabou sendo demitida”, destacou Bruno.
Demandas dos petroleiros
Durante a reunião desta terça, o Sindipetro pediu informações sobre os planos de manutenção das aeronaves, recapitulou todas as denúncias feitas anteriormente quanto aos problemas operacionais e de segurança. Além disso, o sindicato solicitou a ampliação da pista do aeroporto de Urucu para que seja possível utilizar aeronaves mais novas e de tecnologia mais moderna.”Os incidentes e falhas de manutenção são recorrentes. Teve caso de o avião arremeter, o avião retornar para Manaus, mas não há uma política de transparência para informar exatamente o que houve, ou por que o avião parou para manutenção. Então, ficamos muito dependentes das denúncias dos trabalhadores. E só depois que levamos o caso para a companhia, em geral, recebemos algum esclarecimento, mas não recebemos proativamente esse tipo de informação”, disse Bruno.
Em contrapartida, segundo os petroleiros, a Petrobras informou durante a reunião que, nesta terça, foi concluída a inspeção final e realizados dois voos de teste, e que ainda durante a tarde os voos foram retomados. A empresa informou que seriam priorizados nos voos os trabalhadores que estão há mais tempo na fila de embarque e os trabalhadores da área de operação, atendendo a uma solicitação do sindicato.
A Petrobras também teria informado durante a reunião que na terça-feira (6) foi realizada uma inspeção rotineira do contrato, e que na sexta-feira (9), dia do acidente em Vinhedo, decidiu, mesmo sem recomendação do fabricante, suspender os voos para Urucu. No sábado (10), uma equipe da Segurança e Competência em Aviação (SCA) chegou a Manaus e, no domingo (11), a equipe realizou inspeção documental na Voepass.
Nesta terça-feira (13), após a realização da inspeção final na aeronave, a Petrobras informou ao representante do Sindipetro que está sendo feito o recapeamento da pista de Urucu e que o primeiro voo após a retomada das operações seria acompanhado por um dos técnicos da SCA.
A reportagem de A CRÍTICA entrou em contato com a Petrobras para saber quais medidas estão sendo tomadas para garantir a segurança dos voos e dos trabalhadores que dependem dessa rota, e aguarda um posicionamento. A reportagem também pediu nota da Voepass sobre as denúncias de calor e falta de segurança nos voos.
Por A Crítica