Antidepressivos podem demorar semanas para fazer efeito e agora se sabe o motivo

A ação dos antidepressivos normalmente leva um tempo para ser sentida. E agora um estudo pode ter identificado o motivo.

Felizmente, estamos vivendo um momento em que falar sobre saúde mental não é mais um tabu, como já foi no passado. As pessoas estão se sentindo mais confortáveis em debater sobre o assunto e procurar ajuda. Até mesmo porque, hoje, as pessoas estão vendo como é importante ter e manter um equilíbrio emocional.

E entre as condições que afetam a saúde mental de uma pessoa está a depressão. Ela se caracteriza por um sentimento prolongado de vazio, tristeza e incapacidade de sentir prazer. Essa condição atinge aproximadamente 5% dos adultos em todo o mundo, e para tratá-la existem algumas formas, como com remédios antidepressivos, psicoterapia e exercícios físicos.

Mesmo que isso seja conhecido por quase todas as pessoas, quem toma antidepressivos ou está perto de alguém que faz uso desses remédios já percebeu que eles demoram um pouco para fazer efeito. Mas qual o motivo de isso acontecer?

Antidepressivos

Foi descoberto que eles aumentam as conexões no cérebro. Isso dá uma explicação biológica plausível para a ação depois de um tempo e pode ser uma ajuda para criação de novos tratamentos mais direcionados.

Mesmo que ainda não seja claro porque demora tanto tempo, normalmente algumas semanas, para que os antidepressivos deem benefícios visíveis, entender esse atraso ajudaria os profissionais no encorajamento dos seus pacientes para que eles continuem o tratamento, além, é claro, de ser uma esperança para as milhões de pessoas que são afetadas com a doença.

No primeiro estudo humano desse tipo, as mudanças físicas nas conexões neurais, as chamadas sinapses, foram medidas depois de um tratamento com ISRS em adultos saudáveis.

“Descobrimos que, com aqueles que tomaram o ISRS, ao longo do tempo houve um aumento gradual nas sinapses no neocórtex e no hipocampo do cérebro”, disse a neurocientista Gitte Knudsen, do Hospital Universitário de Copenhague, na Dinamarca.

Esse aumento do nível cerebral do neurotransmissor serotonina é responsável pela melhora de humor dado pelos antidepressivos. No entanto, eles não funcionam para todas as pessoas e os cientistas ainda não sabem como ele age precisamente.

Estudo

Eles sugeriram a hipótese de que os antidepressivos aumentam a plasticidade sináptica no cérebro. E é pensado que essa capacidade das sinapses ficarem mais fortes ou fracas no decorrer do tempo é algo importante para o aprendizado, para a memória e regulação do humor.

Então, para testar essa hipótese, os pesquisadores fizeram um ensaio clínico duplo-cego,  semi-randomizado e controlado. Ele foi feito com 32 adultos que não tinham histórico de depressão. Eles foram designados de forma aleatória a tomar doses diárias de 20 miligramas de escitalopram, um antidepressivo, ou um placebo durante cinco semanas.

Através da tomografia por emissão de pósitrons (PET), os pesquisadores mediram os níveis cerebrais de uma proteína chamada glicoproteína 2A da vesícula sináptica (SV2A). O nível dela no cérebro indica a presença de sinapses. Por isso que quando os níveis estão mais elevados em uma região específica isso quer dizer que existe um densidade maior de sinapses naquela região.

Como resultado foram vistas diferenças significativas entre os grupos na progressão da densidade sináptica. No caso, aqueles que tomaram o antidepressivo tinham níveis mais elevados de SV2A no neocórtex e no hipocampo quando comparadas às que não tinham tomado.

“Isso indica que os antidepressivos aumentam a densidade sináptica nas áreas cerebrais criticamente envolvidas na depressão. Isso indicaria de alguma forma que a densidade sináptica no cérebro pode estar envolvida no funcionamento desses antidepressivos, o que nos daria um alvo para o desenvolvimento de novos medicamentos contra a depressão”, disse Knudsen.

Observações

Além disso, o estudo mostrou que a densidade sináptica era maior nas pessoas que tomaram o antidepressivo por períodos de tempo longos.

“Nossos dados sugerem que as sinapses se acumulam ao longo de semanas, o que explicaria por que os efeitos dessas drogas demoram para fazer efeito. Não observamos nenhum efeito naqueles que tomaram placebo”, disse ele.

“O atraso na ação terapêutica dos antidepressivos tem sido um enigma para os psiquiatras desde que foram detectados pela primeira vez, há mais de 50 anos. Portanto, esses novos dados em humanos, que usam imagens cerebrais de ponta para demonstrar um aumento nas conexões cerebrais que se desenvolvem durante o período em que a depressão desaparece, são muito emocionantes”, concluiu David Nutt, neuropsicofarmacologista do Imperial College, Londres, que não esteve envolvido no estudo.

Fonte: Science alert

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